A equipe do Foca no Jornal publica a integra do bate-papo descontraído com o jornalista e sócio-proprietário da empresa de assessoria de imprensa Engenho da Noticia, da cidade de Piracicaba, realizada no mês de maio para o trabalho final da disciplina de introdução ao Jornalismo I, que fala sobre “Segmentação e especialização do Jornalismo”.
Na ocasião, Marcelo Basso recebeu os integrantes do “Foca” nas dependências da assessoria e falou sobre os trabalhos desenvolvidos pela empresa, de seus 12 anos de carreiras e do papel da assessoria de imprensa. Além disso, opinou sobre os impactos da internet no jornalismo e sobre a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que acabou com a obrigatoriedade do diploma para exercer a profissão.
Foca no Jornal: Assessoria de imprensa é jornalismo? Precisa de formação especifica para trabalhar na área?
Marcelo Basso: O assessor de imprensa é um servidor e não um jornalista. Esse é o papel do assessor Assessoria de imprensa, inclusive, é o segmento que mais cresce. Jornalista é jornalista a todo o momento, vai ter que cobrir enchente, festa, velório, posse de prefeito. Sou muito mais um vendedor de notícia do que jornalista. A assessoria de imprensa é mais fonte do que contato. Não precisa ter faculdade para ser assessor de imprensa. Posso contratar tranquilamente alguém que não tenha MTB, mas que saiba produzir um texto e vender essa notícia.
FJ: Qual a dificuldade em transformar fatos comerciais em notícia?
MB: Não tem uma técnica, não tem uma regra. Tem cliente que requer um bom texto. Tem cliente que nem texto quer, apenas quer emplacar a noticia dele. E se você souber falar com a pessoa certa não precisa de release, de nada. É só ‘assoprar’ no ouvido da pessoa certa. A experiência de mercado e a credibilidade te possibilitam isso. Eu com 12 anos de profissão tenho isso, apesar de achar que serei um bom assessor daqui uns 13 anos, com 25 de profissão O cliente quer capa de jornal e o assessor tem a melhor noticia e o melhor evento para ‘vender’ aos meio de comunicação.
FJ: Passaram-se 14 anos desde a sua formação em jornalismo. O que mudou no jornalismo desse período até os dias atuais?
MB: O jornalismo está tão chato. A gente tinha um lema, no meu tempo de faculdade falava isso, era até uma brincadeira do mau jornalista, quando você mandava o jornalista cobrir um treino de futebol, ele passa por um incêndio ia para o treino chegava à redação e contava que viu o incêndio e não registrou. Isso era um absurdo. Hoje é possível isso acontecer. A pauta sai tão fechada que o ‘cara’ sai para fazer aquilo, principalmente na televisão. Ele sai como se fosse um mensageiro de guerra, se ver alguma coisa passa reto. Transformaram o jornalismo em uma maquina. Não tem sensibilidade de ver um fato acontecendo e passar reto.
FJ: Qual o impacto da internet no jornalismo? E especificamente na assessoria de imprensa?
MB: O jornalismo é o mesmo. O que mudou na verdade foi a noticia dada de forma instantânea. Os jornais impressos discutem hoje como dar no dia seguinte a noticia de um jogo que terminou depois da meia noite. Não tem o sentido dar que ganhou de 1 a 0. Esse impacto para o jornalismo impresso foi fatal, mas não morreu. Têm dados que mostram que o jornal está crescendo. A desvantagem da internet é que ela não acrescentou algo de inovador a não ser o fato de você ter a imagem em praticamente tempo real. Um agravante sério que teve com a internet, que na verdade não é da internet, mas ela agravou o problema, é a dependência da imagem. Isso “matou” o jornalismo. Hoje é comum vermos no jornalismo foto-legenda, onde a imagem diz pelo fato e a legenda completa a informação. Isso já existia com o jornal, quando ele passou a utilizar cor e fotos, mas se agravou com a internet. Se você tira a imagem, a legenda não diz nada. Para a assessoria de imprensa foi extremamente benéfica à internet. Podemos disparar os relesses com mais facilidade.
FJ: Qual sua opinião sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal que acabou com a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão?
MB: Sou contra o diploma. Jornalista é vocação e não precisa de diploma, não se faz em faculdade. Ou você é ou você não é. Se você é jornalista podem mandar você fazer qualquer matéria, seja de esporte ou cultura, que você faz. Não existe segmentação no jornalismo, como vemos na medicina. Jornalista tem que ser especialista em generalidade. Faço 12 assessorias de imprensa, sobre automobilismo, shopping. Ninguém é obrigado a entender de automobilismo ou de qualquer outro assunto. Vivo criando noticia que não tem nada a ver comigo. O jornalista tem que relatar e acabou. Mesmo que você não entenda de algum assunto mais especifico, você vai escrever o que você entendeu Jornalista é jornalista a todo o momento, se você for cobrir uma enchente, uma festa, um velório, uma coletiva de um prefeito. Se não tiver isso em mente não é jornalista.
FJ: O que o jornalismo lhe proporcionou nesses seus 12 anos de carreira?
MB: Credibilidade. Em 12 anos de experiência ganhei uma coisa que dinheiro não pode dar: credibilidade com os clientes. Eu posso disparar meu release tranquilamente que ele é aceito em todo o lugar do país. É a única coisa que consegui com assessoria de imprensa. Não consegui dinheiro, nem vou ficar milionário, mas credibilidade eu tenho.
Eu nunca pensei em ser jornalista. Sempre gostei de escrever, sempre li muito, estava procurando algum curso, não tinha nada na área de escritor, e resolvi prestar jornalismo. Mas, nunca me preocupei em exercer. Tanto que terminei a faculdade a ultima coisa que queria ser era jornalista. Eu tenho vocação pra vender, sempre tive. Eu me acho um vendedor de noticias. O que eu faço efetivamente é vender noticia.
FJ: Em sua opinião, o que as escolas de jornalismo devem priorizar na formação do profissional?
MB: O essencial do jornalismo não se aprende na faculdade. É claro que aprendemos sobre as técnicas e a estética da profissão, mas ética que se discute muito na faculdade, o curso não vai te dar. Ética vem de casa, vem de berço. A teoria da faculdade se usa muito pouco. Tanto que eu saí da faculdade e a última coisa que queira ser era jornalista. É na pratica que você aprende a exercer o jornalismo. A gente não envelhece para o mercado. Como jornalista você vai ficar cada vez mais velho, cada vez melhor. É uma profissão intelectual. O profissional mais velho tem experiência, sabe os caminhos da noticia. Já o jovem tem gás.
Sobre o jornalista Marcelo Basso: Formado em jornalismo pela Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), concluiu a graduação em 1996. Como sempre leu muito e gostava de escrever procurou um curso na área de escritor e como não encontrou cursou Jornalismo. Começou a trabalhar na área em 1998, como assessor de imprensa e desde então só trabalhou em assessoria. Antes disso trabalhava como vendedor de loja. Por quatro anos trabalhou na assessoria do Senai, depois passou cinco anos assessorando a Esalq (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”), e por três anos atuou como assessor da Prefeitura de Piracicaba. Após essas experiências, resolveu abrir sua própria empresa de assessoria, hoje o Engenho da Notícia, única empresa de assessoria de Piracicaba.
Sobre o Engenho da Notícia: A idéia do Engenho da Notícia surgiu no período em que Marcelo Basso se considera profissional do jornalismo, há 12 anos. A assessoria existe há quase cinco anos como empresa - que emite nota fiscal, paga imposto – e é a única de Piracicaba. A empresa conta atualmente com quatro jornalistas, sendo Marcelo, sua sócia Luciane Anhão e mais duas jornalistas, além de uma secretária. E faz assessoria a 12 clientes fixos, além dos que são temporários. Dentre os clientes estão a Rede de Farmácias Drogal, o Café Morro Grande, o Shopping Piracicaba, o ICPA (Instituto do Conhecimento e Ciências Aplicadas), o IAPA (Instituto de Avaliações e Perícias Automotivas), entre outros.
Texto: Michele Trevisan
Produção: Foca no Jornal
Publicação: Michele Trevisan
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